Podemos nos perguntar: por que temos lembranças que levamos para a vida toda? Não me refiro aqui somente às memórias de eventos que são marcados pela dor e sofrimento e sim àquelas que foram formadas pelas vivências de algo que dão sentido as nossas vidas.
As memórias são formadas e armazenadas em intrincadas redes neurais que se fortalecem com a repetição e com o conteúdo emocional com os quais os fatos são vividos. Os estímulos emocionalmente competentes são capazes de ativar o processo de neuroplasticidade que reforçam as interações entre os neurônios. Essa rede neural robustecida pode guardar lembranças que nos acompanham por toda a vida. Com o passar do tempo há o declínio da memória, e não é motivo de susto, esse é um fenômeno fisiológico.
Recentemente assisti um vídeo de Marta C Gonzalez, uma das primeiras bailarinas do New York Ballet. Ela é um dos tantos exemplos de alguém que se doou de corpo e alma a uma arte e representa um universo de pessoas que tiveram suas existências dedicadas a causas que se tornaram o centro de suas vidas. Faleceu em 2019 com Doença de Alzheimer uma patologia neurodegenerativa que assola o processamento da memória. Ao ser reapresentada à música Lago do Cisne, encenou a dança na sua cadeira de rodas. Mesmo com a limitação de movimentos sabia muito bem como cada passo deveria acontecer, detalhes do coro e da orquestra. Surge novamente o questionamento, onde estava aquela memória, que foi resgatada pelo gatilho da música? Provavelmente em uma das tantas redes neurais que foram ativadas durante toda a sua vida e permaneceram “intactas” em uma ilha de memória.
Existem muitas maneiras de exercitar a memória, algumas das mais eficientes são a leitura e a música que ativam várias áreas cerebrais simultaneamente, entre elas o sistema de processamento da memória e as funções cognitivas.
Fica o convite, leia, ousa música, conecte-se!
Para saber mais:
Izquierdo I. Memória. Ed ARTMED, 3ª ed. Porto Alegre, 2018.
Dr.ª Daniela Martí Barros
Pesquisadora, professora e palestrante